segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A Orientação


A ORIENTAÇÃO

Josenildo Silva de Souza1

Desesperado, aflito e preocupado um aluno procura um professor para orientá-lo a fazer o trabalho de conclusão de curso – popularmente denominado TCC. Ao entrar na sala na qual se encontra o professor o aluno, de imediato, pergunta:

- Professor! Estou precisando de um professor-orientador para elaborar o TCC. O senhor pode me orientar?
- Depende! Responde o professor.
- Qual o seu tema? Pergunta o professor.
- Não tenho um tema definido ainda. Responde de alto e bom som o aluno.
- Assim fica difícil me caro! É muito complicado orientar um aluno que chega no final do curso nas condições em que você se encontra! Mas, podemos tentar! Para começar, pense num tema no qual você gostaria de desenvolver seu trabalho, faça as primeiras leituras sobre ele e me traga algo escrito sobre o que você leu.

Diálogo como esse entre o professor e o aluno tem se tornado recorrente no cotidiano das instituições de ensino, especificamente, nas universidades. Os alunos chegam nos últimos semestres do curso sem ter definido o seu orientador e, muito menos, o tema que será desenvolvido no trabalho. Situações como essas deixam os professores perplexos, bem como, a refletirem sobre como orientar seus alunos a elaborar o TCC nas condições acima referidas. O TCC é um trabalho que pode ser elaborado em forma de artigo ou monografia. É ele um dos requisitos necessários para que o aluno possa concluir seu curso, quer queira ele ou não. Contudo, o TCC, parece mais assustar do que empolgar. Será que é devido ao fato de sua sigla parecer com aquela de uma das maiores facções criminosas do país? Obviamente que não!
Geralmente, os alunos chegam no último semestre sem nunca ter feito um artigo ou monografia, uma vez que boa parte dos professores não inserem essas atividades com um dos critérios fundamentais para avaliação do aluno nas disciplinas por eles ministradas. As explicações para esse fato variam desde número excessivo de alunos em sala de aula, até falta de tempo, por parte do professor para dar conta da leitura dos trabalhos pois, tanto ele quanto os alunos, têm outras disciplinas e não sobra tempo suficiente para nenhum dos dois. Convence? Não!
Há casos em que o aluno se quer escolheu o tema e, quando escolhe, não tem leitura suficiente para dominá-lo teoricamente ou, se quer, superficialmente. Portanto, ele não será capaz de produzir um texto dissertativo sobre o que leu e pesquisou. A não ser aquele de mentirinha! Isso demonstra um problema grave na formação deste aluno. Como uma atividade acadêmica pode ser exigida no final do curso, se ao longo da formação o aluno não vivencia outras atividades pedagógicas que pudessem aproximá-lo daquela que será exigida no final? Em outras palavras, o aluno vai ter que fazer num espaço de tempo, relativamente curto, o que deveria fazer ao longo de sua formação. Isso leva, necessariamente, aos envolvidos no processo, tanto o aluno quanto o professor orientador, a conceber a atividade de elaboração do artigo ou monografia como mero episódio e, como todo episódio, não tem passado, nem futuro. É o instante que o define. É um acontecimento solto. Um fato isolado.
Por sua vez, um outro problema se apresenta. Tendo escolhido o tema, tendo feito leituras sobre ele e algo mais, o aluno muitas vezes escolhe como orientador um professor que não tem afinidades teóricas com o tema escolhido e, nesse caso, pouco pode oferecer uma vez que na construção de um artigo ou monografia, deve haver diálogo teórico, debate, confronto de ideias e coisas do gênero entre o orientador e o aluno e, quando isso não ocorre, por falta de familiaridade com o tema de uma ou ambas as partes, o resultado não poderia ser outro se não um papo de surdo e mudo, uma roda de conversa fiada, improdutiva na qual não há aprofundamento e, sim, superficialidade nas reflexões.
Uma quarta explicação seria a falta de articulação entre as disciplinas de cada período, bem como as de períodos diferentes o que leva, muitas vezes, os alunos a considerarem que o conteúdo de uma delas se encerra nela mesma e não está relacionada com as demais revelando, assim, uma prática pedagógica extremamente fragmentada incapaz de promover a tão almejada interdisciplinaridade que poderia se concretizar no artigo e ou na monografia. Não vamos entrar aqui na discussão sobre a pertinência dessas questões, muito embora tenhamos consciência da sua existência.
Voltemos, então ao encontro do aluno com o orientador. Dias depois do primeiro contato com o professor, o aluno volta a se encontrar com ele para dar, então, início aos encontros de orientação, bem como estabelecer um cronograma de atividades a ser desenvolvido por eles. Nesse encontro o professor pergunta:
- E ai? Definiu o tema? O que trouxe escrito sobre ele? Pergunta o professor.
- Bom professor! Pouca coisa! Pois, como havia dito no nosso primeiro encontro não tenho muita leitura. Foi o que pude fazer. Responde o aluno e, logo em seguida, entrega o trabalho ao professor.
- Vou ler e tecer comentário. Diz o professor. Após a leitura do trabalho o professor indaga:
- O que o fez escolher o tema? Quais as razões de ordem teórico-prática motivaram sua escolha? Qual a relevância teórico-prática do trabalho que você pretende fazer?
Essas perguntas deixaram o aluno quase que paralisado. Sem ter o que responder de imediato ele descobriu, em função das perguntas formuladas, o quão difícil será o caminho que irá trilhar até concluir o seu trabalho. Percebendo a situação complicada em que meteu o aluno, o professor logo se encarrega de explicar a natureza e o teor de suas perguntas. Diz ele:
Meu caro, a escolha do tema é de importância fundamental, pois dela dependerá o bom êxito do trabalho a ser desenvolvido por você. É necessário verificar se há possibilidades de se elaborar um bom trabalho sobre esse tema. Não se pode escolher um tema a esmo, sem cautela e o devido cuidado. Essa verificação começa pela bibliografia a respeito do assunto, pois o acesso a uma boa bibliografia é requisito indispensável. Não deve ser fácil demais nem muito complexo. Pois, deve ser adequado a capacidade intelectual daquele que vai realizá-lo. Além disso, deve ser relevante, apresente alguma utilidade, alguma importância prática ou teórica. É necessário que ele seja trabalhado a partir de um ponto de vista original, trazer alguma contribuição nova, algo que ainda não foi dito sobre o assunto. Nesse ponto, percebe-se que o professor chama a atenção do aluno sobre a importância do tema.
Além disso, continua o professor, o tema precisa ser delimitado, ou seja, é necessário fixar sua extensão, abrangência e profundidade. Para tanto, é indispensável conhecer, genericamente, o assunto. Assim fica mais fácil delimitar o tema após algumas leituras exploratórias. Procurar fixar circunstâncias de tempo e espaço, bem como políticas, sociais, etc é de fundamental importância. Portanto, conclui o professor, delimitar o tema implica selecionar um de seus aspectos, limitando a escolha a um deles, de modo que o assunto seja tratado com suficiente profundidade.
Após esses esclarecimentos, o professor sugere, então, que o aluno caia em campo em busca de uma bibliografia que trate do tema por ele escolhido. Além disso, sugere, ainda, que ele procure, ao máximo, criar as condições teórico-prática para delimitá-lo.
Após esse encontro com o professor, o aluno começa a por em prática tudo que lhe foi sugerido. Procura na biblioteca da universidade os possíveis livros que tratam do tema em questão. Busca na internet artigos e textos em revistas especializadas na temática. Leva-os para casa e dar início a leitura do referencial teórico obtido. Confuso sem saber por onde começar, o aluno toma a iniciativa telefonar e enviar um e-mail ao professor solicitando algumas orientações de como proceder nas leituras. Marcam, então, um encontro para esclarecimento das dúvidas.
Percebendo o empenho do aluno, o professor, então, sugere que ele deve começar pelas obras que tratam o tema de uma maneira mais geral e das obras que serão objetos das leituras e anotações. É necessário fazer um levantamento delas, recomenda o professor. Além disso, explica que a leitura prévia, possibilitará uma seleção das obras que passarão pela leitura seletiva. Nela serão localizadas as obras, capítulos ou partes que contém informações úteis.
Após a recomendação, acima, o professor alerta o aluno sobre o tipo de leitura que ele deve fazer. Explica que a leitura crítica ou reflexiva permitirá a apreensão das ideias fundamentais de cada texto. Pode-se considerar, que esta é a fase mais demorada da pesquisa bibliográfica, pois as anotações devem ser feitas somente após a compreensão e apreensão das ideias contidas no texto. Após a seleção e classificação de todo material levantado na pesquisa bibliográfica, executa-se a etapa seguinte. Antes da elaboração da etapa seguinte o professor é surpreendido com um insigth que o aluno teve. Ao ler os textos aluno constata que os autores que abordam o tema que ele escolheu têm concepções diferente sobre o assunto e, mais ainda, em muitos aspectos, são contraditórios. Há os que analisam com profundidade e aqueles negligenciam nesse aspecto. Pôs-se, então, questioná-los, a problematizá-los. Essa problematização lhe permitiu formular o problema da pesquisa. Todo e qualquer conhecimento mais sistematizado começa quando problematizamos o que está diante dos nossos sentidos. Ou seja, quando não naturalizamos a nossa existência. A ciência e a filosofia só avançam quando novas questões são postas aos homens pela realidade. Após essa constatação o aluno caiu em campo em busca de respostas para os problemas por ele levantado.
O passo seguinte na orientação foi a elaboração do esboço ou plano provisório da redação. É necessário saber o que o trabalho vai realizar. Antes elaborar um plano de redação, imaginar o tipo de abordagem, os tópicos que serão focalizados e quais os que merecerão maior ênfase, como se pretende conduzir o desenvolvimento, isto é, em quantas partes o texto será dividido, quais os elementos que poderão ser utilizados na argumentação.
A cada recomendação do professor-orientador, o aluno segue a risca sem fraquejar demostrando o quanto está envolvido no trabalho. Os dias de encontros são realizados de acordo com o estabelecido entre eles no cronograma de atividades na busca contante de expor as dúvidas bem como superá-las. O resultado não poderia ser outro, se não, um trabalho bastante adiantado e preste a chegar à reta final.
Percebendo o bom andamento do trabalho, o professor sugere ao aluno um planejamento acerca de sua estruturação, isto é, um plano o mais minucioso possível, indicando as partes, os tópicos, os elementos que constarão nas diferentes partes do trabalho e explica: a redação de um trabalho não precisa, necessariamente, começar pela introdução. Um plano de redação bem detalhado torna possível redigir o trabalho por partes, para depois ordená-lo convenientemente. A primeira redação deve sofrer críticas e revisões, até chegar-se a uma versão final. Em hipótese alguma a primeira redação pode ser dada como definitiva; é indispensável a redação prévia das partes e outra redação global do trabalho. Esta poderá ser revista, criticada, uma ou duas vezes, para que se possa considerá-la como definitiva.
Em seguida, o professor sugere uma revisão do conteúdo do trabalho e da redação, chamando a atenção para a necessidade de uma leitura crítica, para a revisão geral do conteúdo e das ideias expressas no texto. Os conceitos, a clareza das ideias, a lógica da argumentação, a articulação e o equilíbrio entre as partes também devem ser objeto de avaliação para revisão.
Diante das sugestões e recomendações do professor-orientador, o aluno começa a se dar conta do que fez e da possibilidade de marcar mais um encontro para conclusão do trabalho e prepará-lo para à exposição junto a uma banca examinadora composta por três membros. Espera-se que a desenvoltura do aluno na elaboração do TCC possa se efetivar, também, no momento de sua exposição para que ele possa concluir o seu curso com sucesso. Mas isso é outra história!!!!



1Professor do Curso de Pedagogia da UVA

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