A
ORIENTAÇÃO
Josenildo
Silva de Souza1
Desesperado, aflito e preocupado um aluno procura um professor para
orientá-lo a fazer o trabalho de conclusão de curso –
popularmente denominado TCC. Ao entrar na sala na qual se encontra o
professor o aluno, de imediato, pergunta:
-
Professor! Estou precisando de um professor-orientador para elaborar
o TCC. O senhor pode me orientar?
-
Depende! Responde o professor.
-
Qual o seu tema? Pergunta o professor.
-
Não tenho um tema definido ainda. Responde de alto e bom som o
aluno.
-
Assim fica difícil me caro! É muito complicado orientar um aluno
que chega no final do curso nas condições em que você se encontra!
Mas, podemos tentar! Para começar, pense num tema no qual você
gostaria de desenvolver seu trabalho, faça as primeiras leituras
sobre ele e me traga algo escrito sobre o que você leu.
Diálogo como esse entre o professor e o aluno tem se
tornado recorrente no cotidiano das instituições de ensino,
especificamente, nas universidades. Os
alunos chegam nos últimos semestres do curso sem ter definido o seu
orientador e, muito menos, o tema que será desenvolvido no trabalho.
Situações como essas deixam os professores perplexos, bem como, a
refletirem sobre como orientar seus alunos a elaborar o TCC nas
condições acima referidas. O TCC é um trabalho que pode ser
elaborado em forma de artigo ou monografia. É ele um dos requisitos
necessários para que o aluno possa concluir seu curso, quer queira
ele ou não. Contudo, o TCC, parece mais assustar do que empolgar.
Será que é devido ao fato de sua sigla parecer com aquela de uma
das maiores facções criminosas do país? Obviamente que não!
Geralmente, os alunos chegam no último semestre sem nunca ter feito
um artigo ou monografia, uma vez que boa parte dos professores não
inserem essas atividades com um dos critérios fundamentais para
avaliação do aluno nas disciplinas por eles ministradas. As
explicações para esse fato variam desde número excessivo de alunos
em sala de aula, até falta de tempo, por parte do professor para dar
conta da leitura dos trabalhos pois, tanto ele quanto os alunos, têm
outras disciplinas e não sobra tempo suficiente para nenhum dos
dois. Convence? Não!
Há casos em que o aluno se quer escolheu o tema e, quando escolhe,
não tem leitura suficiente para dominá-lo teoricamente ou, se quer,
superficialmente. Portanto, ele não será capaz de produzir um texto
dissertativo sobre o que leu e pesquisou. A não ser aquele de
mentirinha! Isso demonstra um problema grave na formação
deste aluno. Como uma atividade acadêmica pode ser exigida no final
do curso, se ao longo da formação o aluno não vivencia outras
atividades pedagógicas que pudessem aproximá-lo daquela que será
exigida no final? Em outras palavras, o aluno vai ter que fazer num
espaço de tempo, relativamente curto, o que deveria fazer ao longo
de sua formação. Isso leva, necessariamente, aos envolvidos no
processo, tanto o aluno quanto o professor orientador, a conceber a
atividade de elaboração do artigo ou monografia como mero episódio
e, como todo episódio, não tem passado, nem futuro. É o instante
que o define. É um acontecimento solto. Um fato isolado.
Por sua vez, um outro problema se apresenta. Tendo escolhido o tema,
tendo feito leituras sobre ele e algo mais, o aluno muitas vezes
escolhe como orientador um professor que não tem afinidades teóricas
com o tema escolhido e, nesse caso, pouco pode oferecer uma vez que
na construção de um artigo ou monografia, deve haver diálogo
teórico, debate, confronto de ideias e coisas do gênero entre o
orientador e o aluno e, quando isso não ocorre, por falta de
familiaridade com o tema de uma ou ambas as partes, o resultado não
poderia ser outro se não um papo de surdo e mudo, uma roda de
conversa fiada, improdutiva na
qual não há aprofundamento e, sim, superficialidade nas reflexões.
Uma quarta explicação seria a falta de articulação entre as
disciplinas de cada período, bem como as de períodos diferentes o
que leva, muitas vezes, os alunos a considerarem que o conteúdo de
uma delas se encerra nela mesma e não está relacionada com as
demais revelando, assim, uma prática pedagógica extremamente
fragmentada incapaz de promover a tão almejada interdisciplinaridade
que poderia se concretizar no artigo e ou na monografia. Não vamos
entrar aqui na discussão sobre a pertinência dessas questões,
muito embora tenhamos consciência da sua existência.
Voltemos, então ao encontro do aluno com o orientador. Dias depois
do primeiro contato com o professor, o aluno volta a se encontrar com
ele para dar, então, início aos encontros de orientação, bem como
estabelecer um cronograma de atividades a ser desenvolvido por
eles. Nesse encontro o professor pergunta:
- E ai?
Definiu o tema? O que trouxe escrito sobre ele? Pergunta o professor.
- Bom
professor! Pouca coisa! Pois, como havia dito no nosso primeiro
encontro não tenho muita leitura. Foi o que pude fazer. Responde o
aluno e, logo em seguida, entrega o trabalho ao professor.
- Vou ler
e tecer comentário. Diz o professor. Após a leitura do trabalho o
professor indaga:
- O que o
fez escolher o tema? Quais as razões de ordem teórico-prática
motivaram sua escolha? Qual a relevância teórico-prática do
trabalho que você pretende fazer?
Essas perguntas deixaram o aluno quase que paralisado. Sem ter o que
responder de imediato ele descobriu, em função das perguntas
formuladas, o quão difícil será o caminho que irá trilhar até
concluir o seu trabalho. Percebendo a situação complicada em que
meteu o aluno, o professor logo se encarrega de explicar a natureza e
o teor de suas perguntas. Diz ele:
Meu caro, a escolha do tema é de importância fundamental, pois dela
dependerá o bom êxito do trabalho a ser desenvolvido por você. É
necessário verificar se há possibilidades de se elaborar um bom
trabalho sobre esse tema. Não se pode escolher um tema a esmo, sem
cautela e o devido cuidado. Essa verificação começa pela
bibliografia a respeito do assunto, pois o acesso a uma boa
bibliografia é requisito indispensável. Não deve ser fácil demais
nem muito complexo. Pois, deve ser adequado a capacidade intelectual
daquele que vai realizá-lo. Além disso, deve ser relevante,
apresente alguma utilidade, alguma importância prática ou teórica.
É necessário que ele seja trabalhado a partir de um ponto de vista
original, trazer alguma contribuição nova, algo que ainda não foi
dito sobre o assunto. Nesse ponto, percebe-se que o professor chama a
atenção do aluno sobre a importância do tema.
Além disso, continua o professor,
o tema precisa ser delimitado, ou seja, é necessário fixar
sua extensão, abrangência e profundidade. Para tanto, é
indispensável conhecer, genericamente, o assunto. Assim fica mais
fácil delimitar o tema após algumas leituras exploratórias.
Procurar fixar circunstâncias de tempo e espaço, bem como
políticas, sociais, etc é de fundamental importância. Portanto,
conclui o professor, delimitar o tema implica selecionar um de seus
aspectos, limitando a escolha a um deles, de modo que o assunto seja
tratado com suficiente profundidade.
Após esses esclarecimentos, o professor sugere, então, que o aluno
caia em campo em busca de uma bibliografia que trate do tema por ele
escolhido. Além disso, sugere, ainda, que ele procure, ao máximo,
criar as condições teórico-prática para delimitá-lo.
Após esse encontro com o professor, o aluno começa a por em prática
tudo que lhe foi sugerido. Procura na biblioteca da universidade os
possíveis livros que tratam do tema em questão. Busca na internet
artigos e textos em revistas especializadas na temática. Leva-os
para casa e dar início a leitura do referencial teórico obtido.
Confuso sem saber por onde começar, o aluno toma a iniciativa
telefonar e enviar um e-mail ao professor solicitando algumas
orientações de como proceder nas leituras. Marcam, então, um
encontro para esclarecimento das dúvidas.
Percebendo o empenho do aluno, o professor, então, sugere que ele
deve começar pelas obras que tratam o tema de uma maneira mais geral
e das obras que serão objetos das leituras e anotações. É
necessário fazer um levantamento delas, recomenda o professor. Além
disso, explica que a leitura prévia, possibilitará uma seleção
das obras que passarão pela leitura seletiva. Nela serão
localizadas as obras, capítulos ou partes que contém informações
úteis.
Após a recomendação, acima, o professor alerta o aluno sobre o
tipo de leitura que ele deve fazer. Explica que a leitura crítica ou
reflexiva permitirá a apreensão das ideias fundamentais de cada
texto. Pode-se considerar, que esta é a fase mais demorada da
pesquisa bibliográfica, pois as anotações devem ser feitas somente
após a compreensão e apreensão das ideias contidas no texto. Após
a seleção e classificação de todo material levantado na pesquisa
bibliográfica, executa-se a etapa seguinte. Antes da elaboração da
etapa seguinte o professor é surpreendido com um insigth que o aluno
teve. Ao ler os textos aluno constata que os autores que abordam o
tema que ele escolheu têm concepções diferente sobre o assunto e,
mais ainda, em muitos aspectos, são contraditórios. Há os que
analisam com profundidade e aqueles negligenciam nesse aspecto.
Pôs-se, então, questioná-los, a problematizá-los. Essa
problematização lhe permitiu formular o problema da pesquisa.
Todo e qualquer conhecimento mais sistematizado começa quando
problematizamos o que está diante dos nossos sentidos. Ou seja,
quando não naturalizamos a nossa existência. A ciência e a
filosofia só avançam quando novas questões são postas aos homens
pela realidade. Após essa constatação o aluno caiu em campo em
busca de respostas para os problemas por ele levantado.
O passo seguinte na orientação foi a elaboração do esboço ou
plano provisório da redação. É necessário saber o que o trabalho
vai realizar. Antes elaborar um plano de redação, imaginar o tipo
de abordagem, os tópicos que serão focalizados e quais os que
merecerão maior ênfase, como se pretende conduzir o
desenvolvimento, isto é, em quantas partes o texto será dividido,
quais os elementos que poderão ser utilizados na argumentação.
A cada recomendação do professor-orientador, o aluno segue a risca
sem fraquejar demostrando o quanto está envolvido no trabalho. Os
dias de encontros são realizados de acordo com o estabelecido entre
eles no cronograma de atividades na busca contante de expor as
dúvidas bem como superá-las. O resultado não poderia ser outro, se
não, um trabalho bastante adiantado e preste a chegar à reta final.
Percebendo o bom andamento do trabalho, o professor sugere ao aluno
um planejamento acerca de sua estruturação, isto é, um plano o
mais minucioso possível, indicando as partes, os tópicos, os
elementos que constarão nas diferentes partes do trabalho e explica:
a redação de um trabalho não precisa, necessariamente, começar
pela introdução. Um plano de redação bem detalhado torna
possível redigir o trabalho por partes, para depois ordená-lo
convenientemente. A primeira redação deve sofrer críticas e
revisões, até chegar-se a uma versão final. Em hipótese alguma a
primeira redação pode ser dada como definitiva; é indispensável a
redação prévia das partes e outra redação global do
trabalho. Esta poderá ser revista, criticada, uma ou duas vezes,
para que se possa considerá-la como definitiva.
Em seguida, o professor sugere uma revisão do conteúdo do
trabalho e da redação, chamando a atenção para a necessidade
de uma leitura crítica, para a revisão geral do conteúdo e das
ideias expressas no texto. Os conceitos, a clareza das ideias, a
lógica da argumentação, a articulação e o equilíbrio entre as
partes também devem ser objeto de avaliação para revisão.
Diante das sugestões e recomendações do professor-orientador, o
aluno começa a se dar conta do que fez e da possibilidade de marcar
mais um encontro para conclusão do trabalho e prepará-lo para à
exposição junto a uma banca examinadora composta por três membros.
Espera-se que a desenvoltura do aluno na elaboração do TCC possa se
efetivar, também, no momento de sua exposição para que ele possa
concluir o seu curso com sucesso. Mas isso é outra história!!!!
1Professor
do Curso de Pedagogia da UVA
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